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A RENDIÇÃO


A RENDIÇÃO


Estar em sintonia com a vida é perceber este pertencimento de todos a tudo e, em particular, nosso pertencimento individual a tudo. O que acontece no mundo ou no universo é, igualmente respeitável; não há nada de mais ou menos valor. Tudo pertence da mesma maneira. Não há indivíduos de primeira ou de segunda. Tampouco existem elementos de segunda e outros de primeira. Tudo faz parte de um grande projeto comum em desenvolvimento. Com base na nossa perspectiva temporal, se trata de um projeto em evolução, resultado da interação entre nossas decisões individuais, as forças e ressonâncias coletivas e outras dimensões.


Forças que estamos começando a entrever movem tudo. O indivíduo, guiado pela vida, continua sendo dono de suas decisões. Nossa consciência nos permite ter essa liberdade: a de criar nosso destino, de escolher entre aceitar ou rejeitar, fluir ou lutar.


Existe uma premissa para que esta criatividade seja para o bem: respeitar o princípio de que todos e tudo pertencemos por igual. Isso significa aceitarmos a nos entregar a tudo o que há tal como se apresenta. Se olharmos a evolução dos astros e estrelas ou os ciclos da natureza, constatamos que tudo esta “pensado”, tudo funciona por si só, em uma ordem perfeita.


O ser humano é apenas uma pequena peça a mais desse cosmos sem limites. Por que haveria de funcionar de outra maneira para nós?


A experiência nos mostra o seguinte: ao aceitarmos a vida como ela se nos apresenta e atuarmos com o que se nos apresenta, renunciando a lutar, renunciando a julgar que algo esta mal e decidindo atuar com o que há, transformamos nossa vida em um rio de oportunidades para além de nosso entendimento; oportunidades que respondem aos nossos desejos mais profundos.


Aceitar as coisas como são, rendermo-nos ao mundo como é, significa entregarmo-nos a uma ordem global em movimento que se individualiza em cada um e permite a realização de todo aquele que tenha se rendido a serviço do Destino da Humanidade. O que nos oferece esta ordem global é plenitude, felicidade e liberdade para além do que jamais pudemos imaginar.


As tradições místicas e de desenvolvimento pessoal nos falam disso. O passo decisivo para a felicidade que permanece como Bert Hellinger a chama, é a rendição, simplesmente a rendição e nada menos do que a rendição.


Temos de assumir nossa vida e nossas responsabilidades e atuar, rendendo-nos diante de tudo que nos rodeia, aceitando que as coisas são como são e que os outros atuam como atuam.


Eles estão seguindo os seus destinos e suas decisões. Terão seguido ou não os sinais de seu guia, de acordo com seu grau de intrincação com o passado. Isto não é um assunto meu, é assim que essa pessoa pertence. O que, sim, é assunto meu é que essa pessoa cruzou o meu caminho, o destino fez com que nos encontrássemos, para que, entre nós, surgisse algo novo. É assim que a vida procede.


Se me oponho, resisto, nego, rejeito, me assusto, fico indignado, entre outras ações, o que provoco? A exclusão disto ou deste da minha vida. E o resultado será a entrada na minha vida de uma força corretora que me obrigará, a mim ou aos meus descendentes, a reincluir em minha vida os rejeitados e os esquecidos.


A primeira força do amor é a rendição diante de tudo exatamente como é. Por quê?


Tudo é energia, tudo é feito de energia. Quando observamos uma vida ou uma constelação, vemos que tudo se move em uma direção, para mais vida, mais reconciliação, mais bem estar. Vemos que os momentos difíceis são portais de mudanças para melhor. Há uma direção, um sentido. Tudo vai em direção à unidade, graças ao respeito para com o diferente, mesmo que seja difícil percebê-lo.


Mas, se tomarmos um pouco de distância e observamos todo o universo, poderemos ver uma coerência tão grande nos movimentos de tudo quanto existe e na evolução desse mesmo universo, ou do que começamos a compreender ou a supor sobre essa evolução, que se tornaria temerário aventurar-nos a criticar o que esta acontecendo. Simplesmente, não temos ainda caminhado o suficiente para compreender.


O ser humano tem liberdade de decisão e pode atuar sobre o andar do destino. E aqui esta o nosso drama: estamos imersos em nossas emoções – a maior parte do tempo, aprisionados no passado e decidimos sobre a realidade e sobre o presente com base nas perturbações passadas que temos na nossa mente, nas quais o vitimismo e o drama cultivam a exclusão e a rejeição, ao invés de decidir com base no Adulto presente e integrador.


Vemos que a natureza tem uma ordem e um sentido, mas não vemos o mesmo entre os humanos. Não sabemos, não nos damos conta da força das nossas emoções, atos e pensamentos. Não entendemos que os movimentos desagradáveis de tudo que nos rodeia tem duas missões: refletir o que decidimos sobre como eram as coisas e propor-nos uma tomada de consciência que nos permita crescer como seres humanos.


Costumamos rejeitar o que é difícil ou que não se ajusta aquilo que pensamos. Nossos pensamentos e emoções também são energias que interferem no movimento das demais energias. Dizer “Não” é criar uma energia de freio, de repressão ao movimento que a vida esta impulsionando, impedindo que esse movimento continue em direção a sua finalidade e fazendo com que a energia da dificuldade vá se acumulando cada vez mais, enquanto seguimos nos opondo ou nos queixando do que esta nos acontecendo. De fato, a energia não pode ser detida, pois é um movimento contínuo. Então, ao bloqueá-la com a intensão, provocamos, simplesmente, um acúmulo, um aumento do sintoma criado pela energia retida.


Quando, por fim, aceitamos a situação, nossa intenção a favor permite que a energia seja desbloqueada, que deixe de dar voltas e de acumular-se para, novamente, seguir seu caminho. Então, parece um milagre, mas é, simplesmente, o movimento atingindo sua meta, que é sempre uma reconciliação ou uma integração e uma melhoria nas condições de nossa vida.


A rendição é o “abre-te, sésamo” do sucesso, da abundância e da liberdade. A rendição ao destino assim como é, torna-nos livres. A rendição à correnteza do rio nos abre portas que somente o rio conhecia.


Texto do livro "As forças do amor" de Brigitte Champetier de Ribes.




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