As forças do amor
- Neiva Klug
- 22 de nov. de 2021
- 4 min de leitura

Faz alguns anos que estamos experimentando, nas constelações e em nossas vidas, que aquilo que é prioritário é o assentimento para tudo como é porque é o que traz o sucesso. Ao assentir reconhecemos que a vida é criada por algo maior diante do qual nos rendemos. Aceitamos incondicionalmente que a vida é exatamente como tem de ser. Entramos então em sintonia com a vida e a harmonia penetra em todos os aspectos da nossa vida. Somos um com o todo.
Podemos afirmar, sem desrespeitar o Bert Hellinger, que existem quatros ordens do amor, a primeira delas é o assentimento à vida assim como é, o próprio Bert sempre referiu como a primeira.
E, mais do que ordens do amor, eu prefiro falar das forças do amor. Forças universais tão contundentes e inexoráveis como a força da gravidade.
A harmonia em nossas vidas nasce do respeito para com essas forças do amor. A primeira, que inclui as outras três, é também a mais exigente: é o assentimento para tudo tal como é.
Amar é aceitar incondicionalmente a vida dada pelos nossos pais.

A primeira força está totalmente unida à segunda, digamos que ela a pressupõe: a segunda força do amor é a ordem. “A vida dada por nossos pais” reconhece que essa vida existe porque, e unicamente por esse motivo, somos os filhos desses pais. Aceitar a vida é aceitar a vida dada por nossos pais. É aceitar ser os filhos desses pais, ou seja, aceitar o nosso lugar. Aceitar que a vida é determinada pelo nosso lugar de nascimento.

A segunda força do amor é, portanto, o respeito da dimensão espaço temporal de nossas vidas, ou seja, ou seja, respeito por certas prioridades:
- A prioridade dada hierarquia natural: o lugar ocupado depende do momento de nossa entrada na vida, nem a herança nem os méritos próprios nos permitem decidir qual lugar ocupar. O indivíduo que está antes tem prioridade sobre o que vem depois.
- A prioridade do sistema mais jovem tem mais força a serviço da vida e terá prioridade sobre um sistema mais antigo.
A dimensão espaço temporal de nossas visas é então fundamental na hora de viver o amor e realizar nossa humanidade com plenitude.

A terceira força do amor (embora não exista ordem entre as forças) diz que todos pertencem por igual independentemente de seus atos. Seu movimento é o da inclusão e do respeito da diferença: todos são diferentes e têm o mesmo direito de pertencer.
A vida dada pelos nossos pais nos acolhe, nos dá abrigo e pertencimento, simplesmente por sermos seus filhos, independentemente do que tenhamos feito. E, por conseguinte, nos diz que todos pertencem da mesma forma, por ser filhos de seus pais, independentemente do que tenham feito os filhos ou os pais.
É útil lembrar que Bert Hellinger demorou mais de 20 anos antes de poder compreender e nos transmitir o conceito do pertencimento. No início ele dizia: todos pertencem menos os assassinos e os que abandonam seus filhos. Graças a sua observação fenomenológica da consciência, ele descobriu que a consciência moral está a serviço do pertencimento à tribo e, portanto, a serviço da exclusão de outras tribos. Ele entendeu que na consciência moral não há amor adulto, só o amor da criança necessitada. O pertencimento adulto é independente da moral. É entrega ao amor maior que inclui todos por igual.
E a quarta é a da compensação entre ganhos e perdas ou equilíbrio entre dar e receber. Nos fala de nossa estrutura energética, inteiramente feita de polaridades. Essa força é a que fusiona todos os opostos em um grande movimento de criação de energia. Fundir o dual em uma unidade cria energia e abre para algo novo; essa força está a serviço do Vazio Criador. Com vazio criador eu me refiro a esse campo ilimitado de todas as novas possibilidades, esse espaço que banha o universo, no qual tudo é energia e criatividade e onde as probabilidades infinitas nascem e morrem a cada instante. Sabemos que esse campo é um campo de consciência a serviço de nossa vida e de nossa aproximação da abundância da vida que precisa da força da rendição para nos conectar com algo novo.
Viver com gratidão permite equilibrar dar e receber: agradecer nossos pais por ter nos dado a vida, seja onde for que coloquemos a palavra gratidão, essa atitude de amor preenchido por todos os presentes recebidos da vida que é a gratidão, faz parte do todo e pertence, especialmente, ao presente que tudo inclui. Sentir uma gratidão incontível por tudo é o sinal de estar vivendo em sintonia com o instante presente.
Essa quarta força tem um lugar especial pois se transforma na ferramenta de reparação das outras forças do amor. Equilibrar ou compensar. Tudo se compensa a todo momento, de um modo automático, instintivo e inconsciente. Tanto individual como coletivamente. As forças que dirigem a vida, humana e animal, nos orientam irremediavelmente para o amor, a inclusão, o equilíbrio e o respeito. Quando estas forças são transgredidas é quando observamos seu efeito: estamos tomados pela força dolorosa de sua reparação e não podemos escapar desse movimento de compensação que nos pede rendição, amor, inclusão e respeito.

É útil lembrar que, salvo a primeira força, as outras três atuam tanto no nível individual como no nível coletivo. Existe pertencimento individual e pertencimento coletivo, ordem individual e ordem coletiva, compensação individual e compensação coletiva. Por outro lado, o assentimento para o que há é uma decisão pessoal.
A vida é regida pelas leis físicas e sistêmicas do amor maior.
Viver é amar, amar é viver.
Brigitte Champetier de Ribes
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