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Portanto, a constelação familiar não foi um conhecimento que caiu do céu para mim. Ao contrário, os trabalhos de Thea Schönfelder, Virginia Satir, Ruth McClendon e Les Kadis me transmitiram uma ideia das relações de causa e efeito emocionais, até então desconhecidas. O acesso a elas me foi facilitado essencialmente pela teoria do script, que eu apresentara durante muito tempo em meus cursos. Seu criador, Eric Berne, descobrira que vivemos nossa vida segundo um plano secreto, como se seguíssemos um roteiro que apresentamos no palco da vida de maneira quase literal. Contudo, constatei que há frases nesse roteiro que não se adaptam à própria vida.
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Essa percepção me ocorreu em uma conversa com meu amigo Rüdiger Rogoll. Ele me falava da teoria do script de um cliente, que nomeou o conto de fadas da Branca de Neve como história da primeira infância e a saga de Cassandra como história dos últimos dois anos. Na mitologia grega, Cassandra é a bela filha do rei Príamo de Troia. O deus Apolo apaixona-se por ela e lhe confere o dom de ver o futuro. Porém, Cassandra o despreza, e Apolo amaldiçoa o dom que lhe deu. Ninguém deveria acreditar em suas profecias. Em vão ela adverte sobre a queda de Troia. Depois que a cidade é tomada, Cassandra é violentada por Ájax, o Lócrida, no templo de Atenas e levada por Agamêmnon como escrava a Micenas, onde Agamêmnon é assassinado por sua esposa Clitemnestra e seu amante Egisto. Cassandra tem o mesmo destino.
Na história da Branca de Neve, a bela filha do rei deveria ser morta por ordem da madrasta malvada. No entanto, consegue fugir para a casa dos sete anões. A frase que unia essas duas histórias na teoria do script dizia:
“Uma jovem de sangue nobre sai de casa”. Em seguida, Rüdiger Rogoll pediu ao cliente que dissesse essa frase a seu pai, que lhe respondeu o seguinte: “Está na hora de lhe contar. Antes de me casar com sua mãe, eu tinha outra mulher, com quem tive uma filha. No entanto, vivíamos no interior, onde um filho fora do casamento não era possível, era visto como bastardo. Para proteger a menina, nós a mandamos para outra família”. O cliente não sabia de nada disso. Mesmo assim, representou sua meia irmã no script da vida. Quando ouvi essa história, fiquei eletrizado, pois tinha passado por uma experiência semelhante. Um de meus clientes nomeou como script a tragédia Otelo, de Shakespeare. Na peça, o general Otelo, incitado por uma intriga, mata sua mulher Desdêmona por ciúme e, em seguida, comete suicídio. Eric Berne partiu do princípio de que os scripts surgem por meio de instruções negativas dos pais na infância. Contudo, uma criança não tem como vivenciar em si mesma o que significa a figura de Otelo. Por isso, perguntei ao cliente: “Quem na sua família matou alguém por ciúme?” E ele respondeu: “Meu avô matou seu rival”. De repente, ficou claro para mim que a maioria dos scripts não está relacionada a experiências pessoais. Ao contrário, são assumidos por outros membros da família. O script que desempenhamos em nossa vida já foi apresentado antes por outra pessoa de nossa família. No fundo, nós o assumimos e repetimos.
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Nesse momento, entendi o que significa envolvimento: em nossa vida, estamos envolvidos no destino de outra pessoa. Também entendi o que leva a esse envolvimento: estamos envolvidos no destino de pessoas que se perderam de nossa família porque foram esquecidas ou excluídas por ela. De repente, compreendi o que ocorre nas constelações familiares. Por meio do representante, vem à luz quem são esses excluídos e como podem ser trazidos de volta para a família e nosso coração, aliviando o sofrimento de muitos.
Ao mesmo tempo, ao escrever uma palestra sobre culpa e inocência em sistemas, entendi que há uma ordem original. Nos sistemas, os que vêm primeiro têm a preferência em relação aos que vêm depois. Para mim, essa foi a descoberta da constelação familiar. As outras ordens, que chamei de ordens do amor e que predominam nos sistemas familiares, revelaram-se para mim na meditação. Assim passo várias horas por dia.
Como todos os grandes conhecimentos, aquilo que mais tarde conduziria à constelação familiar anunciou-se ao mesmo tempo em diversas mentes brilhantes. Era como se uma ideia do grandioso que atua nos sistemas familiares já se houvesse propagado entre várias pessoas. Entre elas certamente se contavam Eric Berne, Thea Schönfelder e Virginia Satir, Ruth McClendon e Les Kadis, Jeff Zeig e Iván Böszörményi-Nagy. O grande psiquiatra suíço Carl Gustav Jung (1875-1961) já escrevera em sua biografia, publicada em 1962, em edição póstuma: “Quando trabalhei com as árvores genealógicas, compreendi a estranha comunhão de destinos que me ligava a meus antepassados.
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Tenho a forte impressão de estar sob a influência de coisas e problemas que foram deixados incompletos e sem resposta por parte de meus pais, meus avós e outros antepassados. Muitas vezes parece haver em uma família um karma impessoal que é transmitido dos pais para os filhos. Sempre pensei que teria de responder a perguntas que o destino já propusera aos meus antepassados, sem que estes lhes houvessem dado qualquer resposta; ou melhor, que deveria terminar ou simplesmente prosseguir, tratando de problemas que as épocas anteriores haviam deixado em suspenso”. (Carl Gustav Jung, Erinnerungen, Gedanken, Träume [Memórias, Sonhos e Reflexões]. Organização e edição de Aniela Jaffé. Walter Verlag Zürich und Düsseldorf, edição especial, 13a edição 2003, p. 237).
Impressiona-me ver que cerca de dez anos antes do surgimento da constelação familiar Carl Gustav Jung já havia desenvolvido uma sensibilidade para os envolvimentos na família. Até hoje sou grato a todos os mestres que me levaram a compreender as leis que regem os sistemas familiares. Vejo como uma grande dádiva o fato de poder reconhecer isso. Alguma força, seja ela qual for, deu-me esse conhecimento. Talvez Einstein dissesse que foi a força do pensamento, pois, quando lhe perguntaram o que o levara à teoria da relatividade, coerentemente ele respondeu que havia sido a constante reflexão a respeito. Quanto a mim, acredito que a compreensão de contextos maiores também é sempre uma graça. Por isso, olho com grande humildade para o que pude realizar com a constelação familiar.
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Nunca poderia sonhar que um dia aquilo que chamo de “ajuda para a vida” seria praticado no mundo inteiro e que com ela eu pudesse ajudar tantas pessoas, realizar-me com felicidade e profunda gratidão por meu destino. Quando nos sentimos especialmente bem-sucedidos? Quando aquilo que empreendemos serve à vida. Nesse sentido, o maior sucesso é um filho e, mais tarde, tudo o que o torna apto para a vida, até que ele possa transmiti-la. Aquilo que conseguimos fazer de um modo que sirva à nossa vida e à alheia é um sucesso permanente. Com essa realização, a vida é mantida e transmitida. Temos orgulho desses sucessos? De uma boa maneira, sim. Os pais têm orgulho dos filhos, e quando realizamos bem alguma coisa que trará bons frutos também ficamos orgulhosos. Nesse caso, o orgulho é a felicidade mostrada externamente por termos servido à vida de uma boa maneira. Esses sucessos são permanentes, pois a vida continua com eles. Vitórias também são sucessos. Sucessos pessoais, quando nos mostramos os melhores em um desafio. A competição pelo melhor lugar e as energias que ela libera servem à vida. Todos que participam de uma competição, bem como aqueles aos quais ela é imposta para que sobrevivam, levam a vida adiante, mesmo quando submetidos a um caso especial. Toda vida tem de se impor e é bem-sucedida quando o faz. Em todas as áreas da vida, temos de enfrentar o desafio e assumir um comportamento positivo em relação a ele. Muitos que se encontram juntos em uma competição podem se unir para obterem resultados melhores do que teriam se estivessem sozinhos. Seu sucesso se torna coletivo e beneficia muitos. Nesse caso, é menos o indivíduo e mais o grupo a sentirse orgulhoso. Muitos sucessos destroem sobretudo aqueles que permanecem centrados em si mesmos, sem servir à vida. A menos que também os coloquemos a serviço da vida. Esses sucessos são uma realização pessoal e pressupõem uma ação pessoal. Crescemos com eles. Não se pode dizer o mesmo dos sucessos que se dão à custa dos outros, sobretudo da vida deles e de sua família. Como podemos ter nosso próprio sucesso de maneira correta?
Quando por meio de nosso sucesso os outros são beneficiados em sua vida. Esses sucessos fazem a nós e aos outros felizes.
Fonte: Minha vida minha obra - Bert Hellinger
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