Podemos observar diferentes níveis nos jogos de manipulação.
O primeiro nível, de baixa intensidade, generalizado, abre a porta para atitudes perigosas que podem terminar em tragédia.
Aceito socialmente e estimulado pelos meios de comunicação que buscam audiência, é o do grupo de amigos do mesmo sexo, programas de televisão em que os defeitos e esquisitices do casal são comentados como objeto de entretenimento.
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Revelar intimidade é trair o outro e provocar, sem perceber, o início da separação. Nesta conversa aparentemente inocente depois do jantar, colocamo-nos sutilmente no triângulo dramático do salvador-perseguidor-vitima, sem lhe dar importância, apenas para desabafar. O "engraçado" perdeu o respeito pelo parceiro. Aquele outro, sem saber, se sente confuso, traído, invisível. Ele sente como se uma lacuna acabasse de se abrir entre os dois e ele não entende o porque.
Quem crítica o companheiro com os amigos, no fundo, é fiel ao seu sistema de origem e ao sentimento de culpa que ainda não assumiu por ter se distanciado dos pais ao escolher ter um companheiro e iniciar sua individuação. Portanto, se sente confortável em rebaixar o parceiro. Internamente, sente-se assim, mais próximo da sua família de origem, com menos culpa em relação a ela. Porém, aos poucos, surgirá um sentimento de culpa em relação ao cônjuge, o que será o motivo do agravamento do rompimento que se abriu entre eles.
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Em um segundo nível a gente não ri mais, não comenta mais nada com ninguém. A cumplicidade e a intimidade emocional entre os dois desapareceram. Temos medo do fracasso que se anuncia, medo de pensar em uma mudança, de prever a separação e a solidão.
Rigidez, submissão ou falsos papéis substituíram a sinceridade. A comunicação com o outro foi encerrada. Sentimo-nos bloqueados e frustrados, alternando a raiva com silêncios vingativos ou exigentes, reprimindo o nosso desejo de autonomia e emoções primárias. Estamos instalados em um jogo de manipulação, nos "picamos".
Há censuras, reclamações, vitimização, raiva...Protegemo-nos com o sistema calado, por não ousar falar sobre nosso desconforto e solidão, e por não querer reconhecer que estamos pedindo o que o outro nunca poderá nos dar. Ambos estão com raiva de si mesmo e projetam isso no outro.
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Todo seu passado inconsciente e invisível os levou até aquele casal. As censuras, frustrações ou dependência dos pais alimentam a dificuldade do relacionamento com o parceiro e, ao mesmo tempo, esse parceiro é quem eles precisam.É exatamente nessa pessoa que projetam todas as suas necessidades básicas, assim como aprenderam a vive-las na infância. Então eles precisam continuar com essa pessoa, não conseguem se imaginar sem ela, assim como ninguém consegue se imaginar sem os pais.
Mesmo assim, qualquer um deles pode usar sua consciência adulta para perceber e parar esta atitude destrutiva para ambos.
No terceiro nível, ambos estão dominados pelo sentimento de culpa (pela desonestidade do jogo) e a angústia de se sentirem responsáveis pelo colapso do nosso relacionamento. Cada reação do outro é acrescida como prova de sua maldade.
Procuram apoio e justificativas externas para afastar o sentimento de responsabilidade. O grau máximo de manipulação atinge a destruição de ambos: um morto e outro na prisão, ou ambos mortos. Cada um foi simultâneamente vítima e perseguidor, vingando-se com sentido de justiça, sem nunca assumir responsabilidades. Ambos são vítimas um do outro e de si mesmos, perseverando guiado através de falsos papéis do triângulo de manipulação.
Ambos sendo adultos podem a qualquer momento deixar de agir de forma infantil, recuperar a dignidade e o respeito do outro e iniciar o processo de separação.
A atitude é infantil, porque o maior medo que faz com que se mantenham juntos é o medo de ficarem sozinhos, de terem transformado o outro em mãe ou pai, conflituoso ou congelado como o verdadeiro pai.
Alcançar a intimidade não depende da outra pessoa corrigir seus maus hábitos. Depende exclusivamente de nós.
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Renunciando ao nosso estado adulto, tornamo-nos dependentes dos outros e exigimos que resolvam o que nossos próprios pais foram incapazes de resolver. O que é difícil é a fonte da maior força do ser humano e, é o portal para transformações profundas.
Através dos séculos os nossos ancestrais sobreviveram e viveram, amando, rindo, chorando, matando. Eram companheiros de viagem que partilharam situações, com cumplicidade, apreço, ternura ou raiva. Cada um viveu sua trajetória com seus entendimentos, consciências, medos, ressentimentos e grandezas, proporcionando imenso aprendizado a seus descendentes. Aqueles que conseguiram envelhecer tornaram se homens sábios que guiaram as gerações subsequentes.
Graças as constelações podemos ver com que amor esses ancestrais nos olham agora. Vemos como eles se entregaram a vida, isso lhes teria custado tudo que custasse. Vemos que descanso lhes dá saber que não foi em vão, que seus descendentes vivem suas vidas com dedicação, que os amam com gratidão e profunda emoção, sem tristeza e sem imita-los!
Los desafios de la vida actual.
Brigitte Champetier de Ribes.
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