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O parceiro afetivo não tem a capacidade de nos fazer infelizes, embora, às vezes parece que sim, especialmente em momentos de dor, perda, disputas, desencontro ou frustração. Em um relacionamento podemos viver um amplo leque de sentimentos, entre eles o sofrimento e o desamor, mas não há razão para sermos vítimas disso, visto que nosso caminho, o nosso destino continua sempre íntegro em nossas mãos. Não importa só o que vivemos, e sim nossa atitude perante o que vivemos.
Essa é a boa notícia: apesar dos maus momentos, na realidade ninguém tem o poder de nos fazer infelizes, pois sempre está em nossas mãos decidir como vamos viver as coisas, o sentido que lhes daremos e a possibilidade de orientá-las na direção do positivo e útil. Vejamos o famoso caso de Viktor Frankl, cujo exemplo mostra bem o sentimento do viver, ainda que no pior dos pesadelos ou, o que dá no mesmo, em um campo de concentração.Ou o de Nelson Mandela, que fraguou grande parte da sua integridade na impotência de sua longa reclusão, e que pode encarnar como poucos os versos do poeta William Ernest Henley "Eu sou o mestre do meu destino, eu sou o capitão da minha alma". Ou, mais jocosamente, o de Sócrates, cuja mulher é a famosa por seu pertinaz mau caráter. O filósofo costumava aconselhar as pessoas a se casar, porque, se desse certo, seriam um pouco felizes, e senão, sempre restaria a opção de ser filósofo.
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Não parece um bom negócio deixar que nosso bem estar dependa do outro, dando-lhe esse poder e ao mesmo tempo sobrecarregando-o com ele. A felicidade depende, pois principalmente da nossa atitude e estado perante o que nos cabe viver. Em particular, depende de quê com nossa atitude consigamos evitar o papel do orgulho, o medo, a cobiça, o desejo de notoriedade, a riqueza desmedida, a preguiça espiritual e etc. Tudo isso configura o elenco de personagens da comédia e do sofrimento humano. A felicidade também depende de que permaneçamos na força real que vem de reconhecer nossa responsabilidade, isto é, nossa capacidade de resposta a todo momento. Os falsos poderes levam inevitavelmente ao sofrimento e fazem com que os outros sofram. É mais feliz quem, em vez de se queixar de sofrer resignado, assume uma posição, orienta suas ações, gera esperança e desenha um futuro promissor, enfim quem se transforma em discípulo da realidade, não em sua vítima.
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Portanto, um companheiro não pode nos fazer infelizes em um sentido estrito pois a felicidade é um estado interno, que em ultima instância, só pode e depende de nós mesmos e do cultivo de uma consciência maior, assim como do conhecimento claro do nosso ser. Não obstante, de vez em quando esquecemos tudo isso e pretendemos que o companheiro se transforme em remédio para todos os nossos males e carências afetivas. Nós nos "desresponsabilizamos" colocamos nosso destino em mãos alheias e renunciamos a uma parte fundamental da nossa liberdade do nosso ser. E não temos consciência de que, pensando e agindo desse modo, outorgamos ao outro um poder que não lhe corresponde e que pode até ser um fardo pesado para ele; um poder que, de qualquer maneira, é um lastro para o companheiro.
É conveniente assumir também que a felicidade não significa prazer, nem sucesso, nem ausência de dor de frustração. A felicidade é outra coisa: uma sintonia com o aroma do ser essencial e com a força da vida, um sim incondicional a todas as suas dimensões, um viver em consonância com nossas pré-disposições e o estabelecimento de vínculos ricos e significativos com os outros.
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Então, se sabemos que não podemos pedir a plena felicidade a nosso companheiro, quem é esse que dentro de nós a reclama e se empenha em encontrar exigências e argumentos infelizes porque a realidade não se assemelha aos seus sonhos? Quem escreve intensos dramas com brilhantes, embora fatais, argumentos? É, nem mais nem menos, a criança que continua viva em nós. Se a letra de tantas e tantas canções românticas fosse o sensor que nos informasse dos assuntos-chave emocionalmente nos relacionamentos afetivos, o resultado seria inequívoco: o parceiro teria poder sobre a vida e a morte, e além disso, seria o sentido da vida. Escutamos, por exemplo: "não posso viver sem você", "se você for embora, eu morro", "sem você nada faz sentido", " não há um inferno pior que sua ausência" etc. Se analisarmos com cuidado essas frases, veremos que só podem vir de uma criança. Para ela poderiam ser frases reais, pois com tão pouca idade ausência de mãe ou de pai é vivida como um inferno. Sua dependência é tão grande, quê sem eles, ela sente que não conseguiria sobreviver, ou que não teria sentido viver: sem eles, poderia morrer, literalmente. Portanto, a mensagem popular que povoou essas canções refere-se ao amor romântico em versão infantil.
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Como já disse, somos mamíferos e precisamos do contato e do olhar para sentir que vivemos. E não se trata só de palavras: durante a segunda Guerra Mundial houve registros de que, em certos orfanatos onde os bebês eram formalmente alimentados e cuidados mas não tinha uma pessoa significativa que olhasse para eles que os acariciasse estabelecesse com eles um vínculo pessoal, os bebês acabam morrendo. Isso foi denominado " marasmo hospitalar". Como se, morrendo, eles manifestassem que a vida sem vínculos amorosos significativos não pode vencer a morte. Quando se trata de um relacionamento afetivo devemos nos perguntar sobre a qualidade desse amor: é possível envolver-se e profundamente construir Bem-Estar em uma relação mantida por duas crianças? É uma relação mãe-filho, ou pai-filho, ou um relacionamento entre adultos? O que é legítimo e razoável pedir e esperar em um relacionamento afetivo, e o que não é? O que cabe a criança e o que se espera do adulto? De Joan Garriga, "O amor que nos faz bem".
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