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A Paz
Depois de algum tempo, a culpa também deveria ser superada. É o que se pensava antigamente. Na verdade, isso requer muito amor. É preciso sentir a dor da criança . Isso beneficia não somente os agressores, mas também as vítimas. Quando a dor vem a tona, guarda-se a criança no coração, e depois de aproximadamente um ano, deixa-se ir , para que possa estar morta e para que esteja acabado para todos.
Se este exercício der certo, talvez haja uma nova oportunidade: os pais levam a criança abortada dentro de si , ou a levam pela mão para lhe mostrar o mundo. Se a criança efetivamente consegue se libertar dos vivos vai depender do amor dos pais. Este movimento somente pode partir da criança, e depende de quanto os pais conseguem sentir e expressar seu amor, seu luto, sua dor.
Através do sofrimento vem uma plenitude , que não é possível alcançar no nível superficial da alegria. Esta é a recompensa . Em memória da criança , podemos fazer algo bom, algo que normalmente não teríamos feito. Não precisa ser nada grandioso, mas deve ser único.
O PERTENCIMENTO AO SISTEMA
No inicio do seu trabalho com constelação familiar, Bert pressupunha que crianças abortadas não fizessem parte do sistema como um todo, mas que pertencessem apenas a relação dos pais e não dos irmãos. O aborto era considerado um segredo de foro intimo da relação de casal dos pais, e que não dizia respeito aos outros filhos. Isto foi um equivoco. Com a evolução da constelação familiar original Hellinger, percebeu-se que todos os filhos, mesmo os abortados (voluntária ou espontâneamente ) e natimortos fazem parte do sistema familiar e devem ser contados como irmãos plenos.
Os filhos vivos precisam saber da existência de seus irmãos. Caso contrário a ordem de precedência entre os irmãos é infringida e, na vida, eles não têm força , o que leva a consequências muito graves. Por exemplo, digamos que uma mulher tenha tido dois abortos no passado e somente depois teve seu primeiro filho . Se este filho não souber destes abortos , ele se colocará em primeiro lugar na ordem de precedência dos irmãos , em vez de ficar no terceiro lugar. Afinal , os pais dizem: " nosso primeiro filho !!" Isto pode levar a várias consequências. A vida toda o filho se sente terrivelmente pressionado.
Ele fere a ordem de precedência no trabalho , na família, na relação. Ele frequentemente se sente responsável por tudo e acredita ter que apresentar um desempenho excepcional. Apesar dos muitos esforços , o sucesso merecido não vem. Na relação , muitas vezes, o equilibrio entre o dar e tomar fica comprometido. Como adulto, este filho tenta realizar todos os desejos do parceiro, sem pedir nada em troca. Este tipo de relacionamento está fadado ao fracasso, porque com o tempo, aquele que só toma, sem nunca dar em troca, acaba indo embora.
Quando um filho toma conhecimento, já como adulto, da existência de irmãos abortados, ele passa a ocupar o lugar que lhe cabe na ordem de precedência. A pressão acaba - observamos isto com frequência - e a relação do casal também acaba. Então, como contar ao filho que houve uma criança abortada: colocar mais um lugar a mesa, por ex. Podemos dizer: ainda temos mais uma pessoa a mesa . É seu irmão/ irmã , mas ele/ela está morto(a). Quando o filho olha para a criança abortada e lhe diz : você tem um lugar no meu coração, emana da criança abortada um movimento de benção em direção ao seu irmão. O filho diz a criança abortada "por favor" e depois "obrigado". E os pais dizem a ela :" você tem um lugar em nossos corações". Em raríssimos casos consegue-se "suavizar" o ocorrido . As consequências ficam.
Fonte: "A Própria Felicidade", de Sophie Hellinger.
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