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Há alguns meses atrás estive em Israel e visitei a Universidade Ben Gurion com alguns acompanhantes. Lá, um professor que se empenha muito em favor da paz entre os israelitas e os palestinos nos disse: “É estranho. Se os alemães pedissem perdão aos judeus, os judeus não poderiam dar-lhes este perdão. Ao mesmo tempo, os israelitas estão em Israel à espera que os palestinos talvez os perdoem.”Refleti sobre o significado do ato de perdoar alguém. Será que temos esse direito de conceder o perdão?
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Quando imagino o que se passa na alma, à medida que falamos ou pensamos em perdão, sinto que “Perdão só pode existir em questões pequenas e com reciprocidade.” Quando alguém se toma culpado de algo, por exemplo, machucando outra pessoa, então o perdão de maior efeito é silencioso. Sem palavras. Na verdade, ele é apenas um ato de indulgência, de esquecer o acontecido, passamos por cima do ocorrido. Agindo assim, o outro sente o amor. Quando sente que eu talvez também tenha feito algo que me toma culpado em relação a ele, responderá da mesma maneira, passará por cima e o esquecerá. Esta é uma maneira muito humana de perdoar. Em princípio, trata-se de indulgência, simplesmente.
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Se alguém em um relacionamento falar: “Eu lhe perdoo”, passa-se algo completamente diferente na alma. Quem diz “Eu lhe perdoo” ao mesmo tempo culpa alguém de algo. Esse perdão verbalizado separa, não pode salvar um relacionamento, muito pelo contrário, destrói-o. Existem ainda situações onde qualquer tipo de perdão é proibido, por exemplo, tratando-se de assassinato. Precisamos apenas imaginar: o que se passa na alma de um culpado quando espera que o perdoemos? No momento em que ele pede e espera por perdão, deixa de olhar pelas vítimas. Ao invés de sentir e sofrer com elas por aquilo que lhes causou, olha para si próprio, quer ser aliviado de sua culpa sem assumir as consequências.
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O que acontece com aqueles que estão dispostos a lhe dizer: “Eu lhe perdoo.”? O que fazem através dessas palavras? Será que têm o direito de agir dessa maneira? A quem compete dar esse perdão? Quem disser algo assim posiciona-se ao lado de um poder maior ou até acima dele, como se pudesse decretar a culpa ou a inocência ou, em última instância, a vida e a morte.
Quando o perdão não é esperado e concedido, a grandeza daquilo que ocorreu permanece intocada. O culpado mantém sua dignidade na medida em que não espera por perdão e nós respeitamos sua dignidade, na medida em que não o perdoamos. Ele está entregue a algo maior. Nenhum ser humano pode interferir.
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Mais um ponto está ligado a esse tipo de situação. Uma grande culpa dá força quando a assumimos e aceitamos suas consequências. Concede ao culpado a força da realizar algo que os inocentes nunca seriam capazes de realizar, por não terem essa força. Portanto, também precisamos olhar para a culpa nesse contexto maior. Mesmo assim, de certa maneira, podemos nos voltar para aqueles que não podem mais esperar por perdão. Como? Através da benevolência.
O que é benevolência? É um movimento do coração e da alma, frente a um sofrimento e uma culpa que não podem ser eliminados. Então fazemos alguns atos de benevolência, sabemos, porém, que com isto a culpa e o sofrimento não podem ser eliminados. Na benevolência somos iguais aos outros. Concordamos com a impotência que os envolve e também nos sentimos impotentes. Aquele que é benevolente não julga e não perdoa, nem um nem outro. Ele apenas está presente e não se coloca acima de ninguém. O que disse aqui sobre perdão, sobre a negação do perdão e sobre a benevolência, em princípio, disse sobre o amor. Trata-se, porém, de um amor especial, está além e acima do amor que ainda exige algo.
Histórias de Amor - Bert Hellinger
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