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Desde nossa concepção até nosso nascimento tudo tem uma ordem, como seres humanos nós estamos vinculados a uma imensidão de sistemas, desde o nosso corpo, à família, ao país, ao continente em que pertencemos, todas eles formam um sistema integrado que estão inter-relacionados entre si e que nos influenciam sem estarmos conscientes.
Temos guardado na memória das nossas células que nos foram dadas pelos nossos antepassados os traumas e experiências de guerras, desenraizamentos, escravidão, exclusão, pobreza e violência.
Essas memórias inconscientes perduram, ao longo de gerações e limitam nossa natureza divina, não nos permitindo viver a Vida com o merecimento e a leveza que ela nos convida.
Esse emaranhamento familiar, conduz-nos a lealdades, onde queremos honrar e reparar o destino do nosso clã, e onde nos sentimos empurrados a equilibrar muitas vezes ao preço da nossa vida. As vidas interrompidas, não vividas, as exclusões, as vergonhas, as injustiças cometidas, as humilhações, os destinos difíceis, bem como a culpa de abusos cometidos e de todas as vidas inacabadas e impossibilitadas.
A verdade é que essa memória nos impede a todos, vítimas e algozes, de nos sentirmos com o direito à felicidade.
A violência, a delinquência, a agressividade, racismo, revolta e desigualdades raciais, que fazem parte do nosso cotidiano, têm origem nesse passado traumático, que ainda não foi olhado, honrado e integrado com amor dentro de nós. Precisamos trazer à luz lealdades inconscientes e olhar e abraçar os traumas da humanidade, para resgatar as dores do passado e curarmos, dentro de cada um de nós, os processos de guerra, escravidão, colonização e racismo.
Não é possível o ser humano continuar a acreditar que pode construir felicidade em cima da infelicidade, e do aproveitamento de alguém, de um grupo de pessoas, de uma civilização, de uma cultura, de um território.
É urgente que aprendamos a olhar de forma sistêmica, para a relação entre os povos e as nações, para reestabelecer a ordem, o direito a pertencer e o equilíbrio.
Há um século atrás, Carl Jung propôs que os seres humanos foram preparados para uma transformação alquímica, uma união mística da humanidade em sua totalidade. Nisso ele reconheceu que um dos obstáculos é a forma como o indivíduo sente suas limitações, como lhe foi imposto pelo condicionamento social, e também inconscientemente, pelos destinos herdados dos ancestrais e o legado de traumas das gerações anteriores.
Agora, um século depois, a visão de Jung está longe de se cumprir, mas há um núcleo crescente da humanidade que está questionando como nos libertamos da opressão, como nos mantemos vibrantes no declínio da supercultura e como podemos desenvolver as ferramentas para potencializar a transformação. O ser humano nasce com uma capacidade excepcional de vivenciar a consciência nos níveis pessoal, familiar, ancestral, da alma e do espírito. E podemos fazer isto apenas com o pulsar dos momentos do dia a dia.
E ainda, conforme nossa vida se desenrola, descobrimos que essa capacidade diminui e cada vez mais somos tocados nas nossas profundas feridas herdadas, que chegam até nós pela guerra, pobreza, deslocamento, escravidão e violência, e isso restringe as nossas almas.
Queremos ser capazes de brincar com a consciência, mas descobrimos que a voz corrosiva da vergonha, a culpa e o medo, aprisionam nossas mentes. Queremos ser capazes de viver e amar e a lidar com as dinâmicas do poder de uma maneira diferente. Quando resistimos a sentir a dor dessas heranças dentro de nós, elas persistem e sequestram a nossa própria esperança de cura.
Essas memórias são muito mais antigas que a própria linhagem familiar imediata. Um indivíduo, que por exemplo, comete um crime na sociedade, ele é punido pela sociedade naturalmente. No entanto, no passado quando houve uma nação, ou seu povo cometeu crimes contra a humanidade em grande escala, não existiram mecanismos para equilibrar a balança da justiça em nome daqueles que foram vítimas. E essa falta de justiça e dor que foi acumulada no nosso inconsciente coletivo, influencia-nos a todos. Com os aspectos mais sombrios do colonialismo escrito, nas narrativas históricas do passado de uma nação, a necessidade de punição, expiação e restituição ainda está presente nos corações e nos corpos de todos os descendentes.
Gerações, séculos e até milênios depois, o vínculo Vítima - Perpetrador, mescla os destinos daqueles que foram escravos com aqueles que escravizaram, aqueles cujas comunidades foram exterminadas, com aqueles que conquistaram, e assistimos ainda hoje, em pleno século XXI, apesar da luta dos povos e raças, a manutenção dessa desigualdade de oportunidades que no fundo são alimentadas pelas dores do inconsciente coletivo e pelas lealdades inconscientes ao passado, já não se coadunam minimamente com o conhecimento, a evolução e a tomada de consciência, que nós temos hoje enquanto ser humano.
A vergonha da nossa ancestralidade perpetradora impediu muitos sul-africanos de reconhecer ou integrar os perpetradores da colonização, escravidão e Apartheid na África do Sul como parte da nossa identidade.
As constelações sistêmicas falam em incluir o perpetrador no nosso coração para facilitar esse trabalho com o sucesso. A comissão para a verdade e a reconciliação na África do Sul, tentou trazer à tona a verdade sobre os crimes, mas falhou de certa forma, porque a justiça não foi feita e a compensação não foi recebida pelas vítimas. Como resultado, continuamos a assistir o ciclo da violência, à medida que descendentes de perpetradores começam a ver-se como vítimas e a perpetração de micro agressões em linhas raciais é abundante.
O trabalho das constelações sistêmicas sugere, trazer vítimas e perpetradores juntos, para se verem olhos nos olhos, para se verem de ser humano para ser humano, isto traz cura para o campo vítima-perpetrador.
As pessoas perderam o direito à liberdade, à individualidade. Assistimos os filhos serem arrancados das mães. Pais arrancados das suas famílias. Pessoas arrancadas das suas terras, do seu território de poder. Impedido de viver a sua cultura. Impedido de respirar a força da sua Ancestralidade. Impedidos de viver de acordo com suas crenças, e a sua relação mais profunda com a vida, os seus rituais, a sua relação com os espíritos da natureza, com a sua essência.
Vítimas e agressores clamam por serem olhados e reconhecidos. Esta dor está em nós e é espiada diariamente através das nossas vidas. Hoje sabemos pela epigenética, pela física quântica e pela abordagem sistêmica que "as experiências do passado são também experiências do presente" e o que "fica reprimido provoca vazios existenciais na vida dos descendentes". Numa época em que estamos a assistir o emergir deste corpo de dor coletivo e ao extremar de posições e radicalismos, sugerimos um olhar interno para as histórias e vivências dos nossos antepassados, para que a nossa Alma possa entender, honrar e libertar-se assumindo seu papel individual nesse drama psico-sistêmico e sua responsabilidade na mudança de consciência coletiva.
Curar as dores acumuladas para que no futuro não haja resquícios nos relacionamentos dos papéis de vítima e agressor, colonizados ou colonizador, patrão ou servo, para que possamos caminhar para uma humanidade consciente e alcançarmos a possibilidade de escolher a via do amor e da cura.
Tomar esta consciência sem pudores, sem censuras, sem julgamentos anacrónicos do passado, faz-nos olhar, olhar para o futuro a partir deste entendimento, e do reconhecimento da dignidade do preço pago por tantas vidas humanas, pela destruição de culturas com sabedoria milenar e pelo desrespeito dos territórios, permitindo-nos ressignificar, reverter esse olhar, honrando, dignificando todo o passado, compreendendo que toda ignorância e a cegueira não nos permitiram fazer melhor.
É urgente que os povos nativos em todos os continentes, resgatem e tragam à luz, a sua cultura e a sua ancestralidade, começando por assumir a sua língua materna, e os seus nomes originais, que são mantras que acordam a energia das suas Almas. Estamos falando de um patrimônio cultural da humanidade. Devolver a cada nação e acima de tudo, cada território sagrado a sua dignidade, cultura e rituais religiosos, que acordem e possam empoderar os corpos e almas dos descendentes e filhos dessa Terra.
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A verdade é que, embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, cada um de nós pode começar agora, a participar na cura do inconsciente coletivo e construir uma nova humanidade.
Todos nós, e cada um pode à sua maneira participar desta cerimônia.
E como é que nós podemos participar? Basta nos ligarmos de coração a este movimento de integração, de ampliar nosso olhar e consciência para uma nova compreensão para um novo paradigma da ação: Do medo para o amor. Da dualidade para a unidade. Dos opostos para neutralidade.
E a partir deste novo lugar, que é um lugar interno, onde cada um de nós acede, de pacificação, de honra de dignidade, de restabelecimento do lugar, de cada ser humano, do lugar de cada vida, de cada povo, de cada cultura, de cada nação, de cada território. Integrar e permitir que o amor retorne ao seu lugar no centro de nós próprios, e que o essencial desse sopro de vida que se mostra, para que todos, todos nós, possamos receber e sejamos merecedores da vida, que possamos receber de nossos antepassados, a vida e expandir uma nova consciência na Terra.
Unidos num só coração!
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